Atenção domiciliar – a evolução do Home care e uma solução humanizada para cuidar da saúde

Sistemas público e privado de saúde contam com serviços de atendimento em casa, com capacidade de atender como se fosse em hospital

Você já esteve com um familiar ou amigo internado? Mesmo que não tenha assumido a missão de acompanhante, você sabe que internações hospitalares representam momentos difíceis na vida de qualquer família – além da ansiedade angústia, a espera da cura e de boas notícias, a rotina da família e amigos sofre mudanças consideráveis e, muitas vezes, irreversíveis.

alta hospitalar é, sem dúvidas, um momento que renova as energias de pacientes e famílias – afinal, não há nada como a nossa casa -, mas é também um período de insegurança. “Será que eu vou saber cuidar sozinho?” O que muita gente ainda não sabe é que existe uma modalidade continuada de prestação de serviços na área da saúde que é realizada nas moradias dos pacientes: a assistência domiciliar (AD).

Na última semana, ministrei uma uma aula exatamente sobre isso, no 1º Congresso Brasileiro “Amo Cuidar – uma visão multidisciplinar de práticas assistenciais avançadas”. E me senti no dever de compartilhar com vocês que a alta hospitalar não representa o fim de todo o apoio especializado. O evento reuniu, em Montes Claros, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos para apresentar experiências desafiadoras na atenção domiciliar e compartilhar inovações que beneficiam os pacientes quando eles passam a ser assistidos em seus lares.

Ainda que a cena do médico assistindo seu paciente em domicílio, como no quadro The doctor, de Sir Luke Fildes, de 1891, seja fácil de imaginar, a sistematização dessa prática como política de estado foi registrada pela primeira vez em 1947, nos Estados Unidos. O conforto do lar é um ambiente adequado para o cuidado da saúde. Com o novo perfil da população mundial – mais envelhecida e com maior prevalência de doenças crônicas -, a atenção domiciliar se destaca por atender às demandas de forma humanizada, individualizada, específica, ágil e econômica.

Quando falo que é possível cuidar muito bem de pacientes em casa, muitas pessoas ficam surpresas. O status de confiabilidade do hospital está fortemente associado ao desenvolvimento das cidades e do urbanismo iniciado na França, quando um dos principais causadores de doença era a falta de saneamento básico e desorganização ambiental. Por vezes, o domicílio foi e ainda é entendido como inseguro, insuficiente ou limitado para o cuidado. O que não é mentira. No conforto do lar é possível contar com uma equipe multidisciplinar capaz de realizar administração de medicamentos (inclusive endovenosos), reabilitação pós eventos trágicos como derrame cerebralcâncer ou acidentesmonitoramentocuidados paliativos e terminais.

Isso tem se tornado cada vez mais possível, porque as equipes e as práticas de AD estão em constante desenvolvimento para proporcionar tratamento mais individualizado e específico, integrando terapêutica-indivíduo-ambiente, fugindo do cuidado centrado apenas na doença e focando no paciente como pessoa única. Aos olhos destreinados, o cuidado em domicílio pode parecer simples, mas são necessárias habilidades específicas, agilidade, eficiência, assertividade e toda tecnologia disponível. O que podemos fazer para melhorar a vida das pessoas hoje deve ser uma meta constante.

Outro ponto interessante de compartilhar com vocês é que a AD é uma forma de atenção à saúde presente também no sistema público. A AD no SUS está em expansão por meio do Programa Melhor em Casa. Em Belo Horizonte, além dos programas Melhor em Casa e EMAD (Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar), a prefeitura possui o Programa Mais Vida em Casa, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas da UFMG e coordenado pela Professora e Geriatra Dra. Flávia Lanna de Moraes. Nesse programa, são realizadas avaliações de idosos em domicílio, incluindo paciente, família e ambiente – uma avaliação completa que é exemplo de sucesso e referência nacional.

Já no sistema privado, as operadoras planos de saúde realizam a assistência domiciliar por meio de equipes próprias ou por empresas parceiras e especializadas neste cuidar – mais conhecidas como home care. O trabalho realizado pela AD é capaz de viabilizar estratégias de gestão que reduzem os gastos e melhoraram o desempenho nos hospitais, aumentando a disponibilidade de leitos, de serviços e profissionais para atendimento de novos casos.

A atenção domiciliar possui mais de 70 mil pacientes assistidos por mais de 90 mil profissionais, um ótimo exemplo que associa competência, desenvolvimento, respeito, exclusividade, humanização, trabalho transdisciplinar, qualidade e redução de custos. Que seja natural e uma rotina a opção por receber tratamentos no ambiente em que nos sentimos mais confortáveis. O nosso lar está diretamente associado a melhores resultados de saúde e de felicidade. Afinal, além de todo o recurso que a medicina pode proporcionar o colo de avó e mãe é um santo remédio.

Por: Erickson Gontijo – médico, membro do Núcleo de Geriatria e Gerontologia do HC-UFMG Fonte: https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2019/11/29/noticias-saude,253616/a-evolucao-do-home-care-solucao-humanizada-para-cuidar-da-saude.shtml

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